quinta-feira, 16 de junho de 2011




Moradores da Independência pedem passagem
10 de junho de 2011 Marilia Costa Cardoso
No último questionário feito aos moradores da Avenida Independência e adjacências sobre suas preocupações e prioridades, a resposta da maioria surpreendeu: a prioridade é segurança no trânsito. Os problemas de trânsito, acessibilidade e policiamento são os assuntos que mais preocupam os cidadãos da Independência. Aparentemente, a cidade não é mais para as pessoas, é para os veículos das pessoas. Foi assim que muitos se pronunciaram.

Essa desilusão com o trânsito, nesta via, foi geral, principalmente com as normas e mudanças que deveriam proteger o pedestre, mas só resolvem os problemas do transporte coletivo e de particulares. Essas mudanças têm de obedecer às leis de trânsito que regem o tráfego de veículos motorizados, não motorizados, pedestres e animais. Elas não podem ser manipuladas ou realizadas com improvisações. Elas devem ser organizadas com conhecimentos de física, matemática e simulações aplicadas ao fluxo de tráfego e respeito ao motorista e ao pedestre.

Ao pensarmos no trânsito de uma cidade, deveremos pensar em um grande tabuleiro, como um tabuleiro de jogo, onde existem regras que precisam ser respeitadas, e peças desse jogo, onde cada uma deve fazer seu papel. Poderíamos pensar num jogo de xadrez, onde os peões são os mais solicitados e mais trocam de lugar. Quem somos nós neste jogo?
Somos exatamente esses peões, porque sendo os que mais circulam, mais devem ser observados. Os carros poderiam ser os bispos que têm sua rota restrita e sempre avançando, exatamente para não haver congestionamentos. Os reizinhos em suas torres de proteção pouco fazem, mas são os que decidem o jogo.

Não estamos tentando nenhum cheque-mate, mas para que tudo funcione com harmonia e respeito, os responsáveis tem de saber planejar, trabalhar e executar o certo. Mas isto, às vezes, não acontece, pois não se olha o jogo como um todo. Tenta-se mexer em algumas situações e todo o jogo se enrola do peão ao rei. O jogo e o trânsito devem primar pelo estudo e pela organização

Há coisas que devem funcionar com a precisão de um jogador: sinaleiras, faixas preferencial para pedestre, sinais e avisos. Estas situações têm de ser precisas, gerais e de conhecimento de todos. Não precisam criar campanhas, basta explicar com clareza as regras e normas vigentes e fiscalizar para que sejam de fato cumpridas.
Só bom senso às vezes não adianta. Proibir que carros façam certas conversões em algumas esquinas, sem colocar uma alternativa razoável, fará com que os carros não obedeçam. Como no caso dos cruzamentos da Protásio Alves com a Ramiro Barcelos e da Independência com a Garibaldi, onde as conversões, mesmo sendo proibidas e sinalizadas, continuam a acontecer colocando a vida dos pedestres em risco. Para determinar novas regras no jogo, todos precisam ser consultados, ouvidos, para depois se tomar uma decisão.

E as faixas “zebradas” que dizem ser preferencial de pedestre, salvo algumas faixas de segurança acompanhadas de um semáforo, qual é a regra para este jogo? Aí, o que vale é o semáforo. E no caso da Rua Santo Antônio, junto à Independência? Como pergunta o senhor Leônidas: “quando vão colocar uma sinaleira para pedestres aqui na esquina da Santo Antônio? Quando alguém for atropelado?” E este senhor pensa como todos que usam esse cruzamento: “qual minha vez de passar?”E como ficam os que necessitam usar muletas e cadeiras de rodas? Quando será a vez deles passarem? Assim como está eles não têm preferência.

Pensem com ele: Em todas as passagens da Independência na esquina da Rua Santo Antônio há faixas “zebradas”. Preferencial para pedestre? Errado, pois existem sinaleiras. Bem, na Santo Antônio, à direita, no sentido Centro/bairro, não existe sinaleira para pedestre, então posso passar? Errado, pois os carros que vêm pela a Independência dobram livremente. Então, qual a regra do jogo? Mesmo com faixa preferencial, se a sinaleira estiver aberta para veículos da Rua Santo Antônio, a prioridade é deles, dos carros. Se a sinaleira estiver liberada para o fluxo na Independência, os carros podem dobrar à direita, se pararem, os outros buzinam furiosos. Muitos aceleram e poucos, muito poucos, param. Para atravessar nesta esquina, tudo é arriscado. Para os carros que param, perigo, pois o de trás pode não parar. Para os que tentam atravessar, só correndo, os que podem correr. E para os que dependem de cadeiras de rodas, muletas, idosos, doentes e crianças, quando devem atravessar com segurança?

As regras não são claras, e o jogador nunca será o vencedor.

Não se trata só de respeitar a faixa para o pedestre, - uma imposição da Lei -, mas de respeitar o pedestre principalmente na faixa.

" o direito de andar, de ir e vir, previsto em todas as constituições...é o mais humilde e o mais desprezado de todos os direitos do homem".

“Com licença: queremos passar.”(Carlos Drummond de Andrade)

Foto: Genaro Joner, BD, 07/12/2007

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